sábado, 20 de março de 2010

Crônicas de Nárnia (já leu?)


Em dezembro deste ano estreia o último filme da trilogia As Crônicas de Nárnia. Enquanto esse dia não chega, aproveitei para rever os dois primeiros filmes da saga e me joguei na leitura dos livros que deram origem aos filmes.
No total são sete livros, mas apenas três foram para as telonas (e quem tiver interesse, saiba que o volume único de Crônicas vive em promoção no site do Submarino!).
Os livros podem ser lidos independentes um do outro, mas claro que faz muito mais sentido ler todos e na sequência.

O que mais me prendeu nesta leitura, foi o fato de que o autor C.S. Lewis, faz um paradoxo bíblico com todas as histórias, desde a criação de Nárnia, comparável a criança na Terra descrita em Genêsis, até a figura de um leão como Deus, que representa o Leão de Judá, descrito também na Bíblia.
Dentro dessa inspiração, Lewis ainda mistura toda sua criatividade e visão de criança-grande para criar um mundo mágico, cheio de seres que não existem e animais falantes. É impossível não ler as páginas de Crônicas sem se transportar fisicamente para a Nárnia descrita com riqueza de detalhes, mas sem parecer chato, afinal, os livros foram feitos para criança, e criança tem um senso incrível para separar o que é legal do que é chato! Abaixo fiz uma breve descrição de cada livro e suas lições.


O Sobrinho do Mago
O primeiro livro conta como o tio das quatro crianças que conhecemos no primeiro filme, visitou a criação de Nárnia. Tudo começa com o leão, Aslam, cantando em um mundo escuro e sem forma, que vai ganhando vida. É também neste livro que conhecemos o despertar da Feiticeira, que no primeiro filme atazana a vida dos pequenos visitantes, e também o porquê de um guarda-roupa ser a porta para Nárnia futuramente. Esta história pode ser comparada com a criação do nosso mundo, e de como um mal, vindo de outro lugar, pode nascer pequeno, e depois tomar proporções quase indomáveis.


- Francamente, acho que alguém devia ter providenciado a nossa comida (Digory)
– Tenho certeza de que Aslam teria feito isso... se vocês tivessem pedido (Polly)
– Ele não saberia sem que a gente pedisse? (Digory)
– Claro. Mas acho que gosta que peçam. (Cavalo)



O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa
O segundo livro, adaptado como o primeiro filme, é considerado o melhor de todos os sete. Ele começa com a pequena Lucia encontrando um guarda-roupa que a leva para outro mundo, um lugar lindo, mas que faz muito frio. De cara ela conhece um elfo, fica amiga dele, e ouve a triste história de Nárnia, que está dominada por uma Feiticeira malvada, a culpada pelo inverno eterno. Mais tarde os três irmãos de Lucia (Pedro, Susana e Edmundo) também a seguem pelo guarda-roupa e conhecem esse lugar. Eles vão descobrir que estavam destinados a ir para Nárnia, e que existia uma profecia sobre quatro crianças humanas salvariam aquela terra do mal e reinariam em paz junto com Aslam. Este livro é comparável a ideia do messias que viria ao mundo para salvar os humanos, morreria, e mais tarde ressuscitaria, como acontece com o próprio leão da história, que se sacrifica por amor do povo narniano, e ressuscita depois.

"Se a Feiticeira soubesse o verdadeiro significado de sacrifício, ela interpretaria a mágica de outra maneira. Quando uma vitima inocente se entrega e é morta no lugar de um traidor, a pedra se quebra ao meio, e até mesmo a morte volta atrás".
(Aslam)


Príncipe Caspian
O terceiro livro foi adaptado como o segundo filme, e conta a história de Caspian, um príncipe perseguido e que encontra aliados na floresta para lutar e reivindicar seu trono. As quatro crianças retornam nesta história, e o ajudam na guerra. A comparação aqui pode ser feita em relação ao tempo que as pessoas passam longe da verdadeira paz, até o dia que retornam o pensamento para o que é bom. O melhor momento se passa com a pequena Lucia, que é a única com inocência o suficiente para enxergar o leão, mas por ser a mais nova não é levada a sério, essa sequência é um bom exemplo do que C.S. Lewis demonstra em todo livro: que precisamos ser crianças o suficiente para entender e viver bem no mundo que fomos colocados. E que devemos tratá-las como iguais, palavras do próprio autor no capitulo “Três maneiras de escrever para crianças”.

"Eu queria que todos vocês parassem de tentar parecer adultos! Eu não acho que o vi, eu vi Aslam" (Lucia)


O Cavalo e seu Menino
Na minha humilde opinião, o quarto livro merecia pelo menos um spin-off da saga! Ok que ele não é dos mais importantes para a história, mas é um livro delicioso de ler, e um dos mais independentes entre todos. A história gira ao redor de um menino que desconhece sua origem e vive com um padrasto que às vezes o trata bem, às vezes não, mas como esse é o melhor que ele pensa que conseguirá da vida, segue sem reclamar.
Até o dia que conhece um cavalo falante que deseja voltar a sua terra natal: Nárnia. O menino quer ir junto, então o cavalo vira dono do menino e o leva, pois assim também não parecerá um cavalo abandonado. Os dois seguem uma incrível aventura de amizade e companheirismo.
Exceto pelo fato de que ambos estão a caminho de Nárnia, e que em certo momento o Leão aparece para ensiná-los uma importante lição, a história se passa paralela aos outro livros, durante o período que as quatro crianças ainda são reis e rainhas de Nárnia.
Inspirador, a história apresenta novas oportunidades de vida, o bem vencendo o mal aos 49 minutos do segundo tempo, e, mais uma vez, uma criança com espírito de herói que encontra seu destino da maneira mais bonita que alguém poderia escrever. Vale a leitura, da primeira até a última página.


A Viagem do Peregrino da Alvorada
O quinto livro foi o escolhido para ser a terceira e última adaptação da trilogia para as telonas. Nesta história apenas as duas crianças mais novas, Lúcia e Edmundo, retornam à Nárnia, junto com Eustáquio, o primo chato.
O Peregrimo da Alvorada é um navio, e sua missão é levar o príncipe Caspian e seus homens em uma viagem até o fim do mundo (já que lá o mundo não é redondo como o nosso, mas sim reto e possui um final). Eles passam por diversas ilhas e conhecem os mais distintos povos, cada um com uma importante lição a passar, seja para o bem ou para o mal.
Destaque para o ratinho Ripchip, que possui uma valentia irritante, mas um foco em seus sonhos de dar inveja ao mais bem sucedido empresário paulistano.
A leitura vale pela aventura imaginária, que falta fazer a brisa do mar bater em seu rosto enquanto lê as páginas no conforto do lar. E também pelo exemplo de caminhada espiritual e mental, que leva o ser humano ao amadurecimento e também a fazer escolhas, que podem mudar uma vida inteira.


"Amigos, ainda não entenderam a nossa intenção. Falam como se estivéssemos chegando até vocês de chapéu na mão, implorando tripulantes. Nada disso. Somos nós que escolhemos os que devem ir, os que são dignos de ir até o fim do mundo. Por isso faremos uma lista dos mais valentes, mais leais e os de costumes e vida mais limpos”.
(Principe Caspian)

A Cadeira de Prata
E como nem toda saga é perfeita, minha nota mínima vai para o sexto livro, que eu pularia, se não fosse importante para a leitura do último. Desta vez, os visitantes de Nárnia são apenas Eustáquio e sua amiga de escola, Jill, que irrita durante toda aventura, mas se redime mais tarde, no último livro. Os dois têm a missão de encontrar o filho desaparecido de Caspian, que já é bem velho. Aslam começa a história passando um mapa de instruções para a garota, que faz questão de errar quase todos os passos...
O titulo vem de uma cadeira de prata que representa algo que prende as pessoas nos seus erros e vícios. Por mais que tentem sair dela, estão presos, e quando se soltam não se lembram mais do desejo de acordar para uma vida melhor. Até o momento que, com a ajuda de amigos enviados por Aslam, é possível se livrar das amarras do passado e viver livremente.


A Última Batalha
A derradeira história é exatamente o que o titulo propõe. A última grande guerra que os narnianos enfrentarão será contra alguém que se passa por Aslam, mas também será contra eles mesmos. O confronto passa da personificação de um impostor para a briga interna contra uma mentalidade errônea e paradigmas enraizados que frutificam em dúvidas e incredulidades. O paralelo bíblico é facilmente feito com o também último livro sagrado: o Apocalise.
Assim como é encantador ver o nascer de Nárnia no primeiro livro, também dá uma dorzinha no estômago de testemunhar o fim dela. Mas o sorriso volta ao rosto no reencontro de todos os personagens queridos dos livros anteriores.



“Todos encontram o que realmente procuram (mesmo sem saber o que estão procurando)” (Aslam)

Um comentário:

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