O que acontece quando dois mundos distintos e contrários se
misturam? Umas das possíveis respostas é a receita de Intocáveis, filme que bateu
O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e se tornou a produção em língua francesa
mais vista no mundo.
Estes opostos são representados por dois indivíduos. De um
lado está Philippe, o milionário tetraplégico, solitário, rabugento e cercado
por um histórico de tragédias. Do outro Driss, o garoto que cresceu na pobreza,
ex-presidiário, sem muitos sonhos na vida, que vai a uma entrevista de emprego
apenas para dizer ao serviço social que compareceu e que precisa continuar
recebendo o seguro-desemprego.
Desgostoso com a vida, mas sem entregar os pontos, Philippe
vive trocando de enfermeiros e aparenta ser alguém de difícil convívio. Em uma
aposta pessoal, ele contrata Driss para o cargo. Quando o jovem pobre entra em
sua vida, o milionário intelectual e cheio de convicções, encontra um mundo repleto
de particularidades que no seu não existem. Driss é ousado, temperamental,
divertido e gosta de viver sem regras. Com o tempo ele consegue fazer com que
Philippe sinta novamente o gosto de viver, de rir, de experimentar coisas novas.
Enquanto Driss, por conseqüência, passa a ter responsabilidades, a valorizar as
pessoas, e também acaba aprendendo sobre arte, música, entre outras coisas que
ele nunca teve antes a chance, ou preocupação, de saber.
“Me diga, Driss. Por que pessoas se interessam por arte?
(Philippe)
“Não sei, porque é um comércio?” (Driss)
“Não. É porque é a única coisa que uma pessoa pode deixar para
a humanidade depois que se for.” (Philippe)
O filme foi baseado no livro O Segundo Suspiro, escrito por
Philippe Pozzo di Borgo, o milionário tetraplégico da história, e retrata essa
sensível e irônica história real. Por mais que o clima tivesse tudo para ser um
grande dramalhão, o longa arranca diversas gargalhadas dos espectadores e
olhares de admiração a cada quadro e momento de uma história sem grandes
aventuras ou reviravoltas, mas que apresenta o relacionamento humano de maneira
bem simples e delicada.
Sempre acreditei que a frase que diz que os opostos se
atraem só funciona para imãs. Com pessoas ela precisa ser entendida de uma
maneira muito subjetiva. Afinal, quem olha para algo ou alguém totalmente
diferente dos seus padrões, gostos e afinidades e de cara se sente atraído?
Creio que os opostos se encontram, geralmente por acaso, ou como uma aposta
para tentar o diferente. E depois de juntos, eles passam pela fase da
curiosidade, de entender o que passa na cabeça do outro, de ver pelos olhos do
outro. E nessa viagem de descoberta do outro, uma autodescoberta se desenvolve.
Por fim, outra reflexão que o filme deixa é o valor de se
ter um amigo. Daqueles de verdade, que te falam o que vem na mente, que te desafia,
que te põe pra cima, e quando necessário te leva longe de tudo só para você
poder respirar. No caso dessa história, é válido analisar o trabalho de acompanhante
de alguém com deficiência. Esse tipo de serviço vai além dos cuidados básicos.
Alguém com esta função passa ser o corpo do paciente tetraplégico. Logo a
mistura entre os dois é inusitada, mas totalmente compreensiva em diferentes ângulos.
Eles se mesclam, se completam, e agora, depois de um livro e um filme com
milhões de espectadores, se tornaram uma amizade digna de virar arte para o
mundo inteiro ver e admirar.
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