segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O azul lhe cai bem


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Desde o Comic-Con de 2009, os rumores sobre o filme Avatar me despertaram curiosidade. Mas minha ansiedade não era tanta ao ponto de ir à cabine de imprensa ou pegar fila para a estreia nos cinemas. Na verdade, demorei um pouco para assistir, pois tudo que ouvia a respeito sobre o longa (e bota longa nisso) era que o visual era incrível, e a história deixava a desejar. Mas depois de assistir discordei da maioria.
Sim, o visual é incrível. Os efeitos beiram a perfeição, e a fauna e a flora do planeta são tão reais, que me deu a leve sensação de que as aulas da escola esqueceram-se de ensinar algumas coisas. No entanto, assim como o mundo físico criado por James Cameron, diretor e roteirista do filme, ficou perfeito, o mesmo ocorreu com a cultura nativa apresentada. Sendo assim, a história não era tão pobre quanto tentaram me convencer.
Atualmente, estou muito envolvida com o tema cultura popular e tenho estudado o quanto o povo brasileiro (e latino-americano) se distancia da sua produção nacional, das suas festas, das suas religiões, entre outras manifestações que fazem com que um povo seja reconhecido simbolicamente, e tenha uma identidade.
Essa tentativa de salvar a cultura de uma sociedade, sem deixá-la ser tomada por uma cultura alienígena é, literalmente, o mais importante de Avatar.

“Uma vida termina, outra começa” (Jake Sully)


Na história conhecemos Jake Sully, um militar que cai de paraquedas em uma missão no planeta Pandora. Lá ele fará parte de um experimento científico, no qual seu corpo se manifestará dentro de outro. Esse outro corpo tem a forma dos nativos deste planeta, os Na’Vi. Eles são grandes e azuis, possuem uma língua própria, uma cultura rica, uma fé sobrenatural e defendem seu planeta com a própria vida, na intenção de que a natureza e todos os elementos dela participantes sobrevivam ao mal do “povo do céu”, como são chamados os humanos que chegaram sem convite.
E adivinha o que os humanos/americanos querem? Uma linda montanha flutuante para quem respondeu explorar o novo planeta e lucrar em cima disso.

“Isso é porque estamos aqui; por causa dessa pequena rocha cinza que vale vinte milhões o quilo” (Selfridge)


Avatar se consagra como um filme que apresenta (além de uma bela história de amor, entre a Na’Vi, Neytiri, e o americano, Jake) imagens lindíssimas que te fazem sonhar a noite, e uma história considerada simples, pois para muitos a exploração por dinheiro, os maus tratos ao meio ambiente, e a fé no sobrenatural já se tornaram coisas comumente irrelevantes e, muitas vezes, motivo de chacota e apelidos.
Desrespeitar a cultura alheia é tão comum que eu não conheço ninguém – e nem eu mesma – que nunca tenha rido de uma senhora que passe na rua de saia comprida distribuindo folhetos cristãos, ou que nunca tenha achado bonitinho, mas primitivo e ingênuo, os rituais indígenas que passam na TV no dia 19 de abril, ou alguém que quando joga um papel na rua nem pensa que pode estar contribuindo para uma enchente futura, afinal, não sou eu sozinho que vou mudar o mundo, para melhor ou pior...

“Está decidido. Minha filha vai ensinar a você nossos costumes. Aprenda Bem, Jakesully, e veremos se sua insanidade pode ser curada” (Moat)


Estamos longe de aprender a respeitar a cultura alheia, afinal, mal sabemos respeitar a nossa. E, na minha humilde opinião, essa é a mensagem que eu gostaria que as pessoas levassem ao sair do cinema. Que o diferente existe, e não é preciso ir a outro planeta para encontrá-lo. É só bater na porta do vizinho, ou olhar com mais atenção para seus colegas de trabalho ou escola, para entender que respeitar o próximo é a principal base para uma sociedade viver em harmonia. E valorizar o que é produzido pelo seu povo, faz com que sua nação mereça levar esse título.

“Eu vejo você...” (Jake Sully)
“…eu vejo você” (Neytiri)

Um comentário:

  1. Adorei a crítica, a partir daí, fui assistir. Também tenho que descordar dos meus amigos, que acharam “sem sal”. Uma mensagem de redenção, respeito e a principal a fé, que hoje em dia está sem perdendo, ou melhor, já se perdeu. E o homem cada vez mais, com sua ganância, sem escrúpulo, sem respeito com o seu próximo, são os extremos retratados neste filme.

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