domingo, 3 de março de 2013

Indomável Sonhadora



Quando a criatividade de um jovem diretor estreante encontra uma garotinha talentosa de seis anos nasce um filme genuíno e pronto para conquistar até os brutamontes hollywoodianos. Antes de ser indicado a quatro categorias no Oscar, Indomável Sonhadora conquistou o bombado Festival de Sundance (ganhando seu prêmio mais importante), foi indicado ao Bafta (o Oscar britânico), ganhou quatro prêmios no festival de Cannes, e figurou entre dezenas de outras indicações e prêmios dos mais variados.
Todo esse prestígio pode criar no imaginário coletivo uma ideia de que o filme deve ser um novo Pequena Miss Sunshine ou algo no estilo Onde Vivem os Monstros, porém Indomável foge das produções cinematográficas atuais e conquista justamente pela criatividade e sensibilidade.

"O universo depende de que tudo se encaixe perfeitamente. Eu percebo que sou uma pequena peça de um imenso universo"

Resumindo, o filme apresenta um pequeno vilarejo afastado da cidade. Lá vive um grupo de pessoas em uma espécie de comunidade autossustentável, na qual os membros ajudam um ao outro. Entre eles está a pequena Hushpuppy (indicada ao Oscar de melhor atriz Quvenzhané Wallis) e seu pai Wink (Dwight Henry). O relacionamento entre os dois é meio estranho e faz com que a menina viva em um constante sentimento de amor e ódio, por vezes querendo que o pai morra, por outros pedindo para morrer junto caso algo aconteça com ele. O pai parece não querer que a garota tenha em si nada de civilizada, e a ensina modos de como sobreviver sozinha e como ser forte. Aliás, lá é a proibido chorar.
Nos momentos de infelicidade, a garota foge para um mundo de imaginação, no qual reencontra sua mãe, interage com a natureza e encara animais pré-históricos. Ao aprender na escola que as geleiras dos polos estão descongelando, e que isso fará com que seu pequeno vilarejo, chamado de Banheira, desapareça, Hushpuppy vive com medo de ver sua casa desaparecer. Após uma densa tempestade que alaga todo o local, ela acredita que foi a culpada pelo fim do mundo.
A tragédia desabriga toda a comunidade, e seus sobreviventes são levados a força para um abrigo. Os funcionários do local tentam inseri-los novamente na sociedade e também dar um tratamento médico adequado ao pai da protagonista. Porém, as investidas dos profissionais são frustradas, e boa parte deles retorna ao vilarejo, agora um pântano sem vida.

"Animais fortes sabem quando seu coração está fraco"

Sob o ponto de vista da pequena, o filme se desenrola, meio confuso, misturando cenas da realidade, com outras que se passam só na mente da menina, e encanta pela linguagem ingênua e infantil usada por ela para narrar a história. A atriz Quvenzhané Wallis conduz bem o roteiro e produz cenas bastante emotivas e fortes. Particularmente, acho que o Oscar não deveria colocar na mesma categoria uma garota de 9 anos com veteranas do cinema, talvez no futuro devam pensar em uma categoria infanto-juvenil, quem sabe. Mesmo assim, o reconhecimento é válido, e espero que ela não seja atingida pela minha teoria da maldição do Oscar, que faz com que todos os jovens atores indicados sejam jogados no limbo após o sucesso dos filmes.
Espero também ver mais produções do diretor e roteirista Benh Zeitlin. Este foi o primeiro longa-metragem do cineasta de 30 anos, e se manter viva a boa visão, criatividade e força de vontade, com certeza ainda lançará ótimos filmes no futuro. 


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