Quando a criatividade de um jovem diretor estreante encontra
uma garotinha talentosa de seis anos nasce um filme genuíno e pronto para
conquistar até os brutamontes hollywoodianos. Antes de ser indicado a quatro
categorias no Oscar, Indomável Sonhadora conquistou o bombado Festival de
Sundance (ganhando seu prêmio mais importante), foi indicado ao Bafta (o Oscar
britânico), ganhou quatro prêmios no festival de Cannes, e figurou entre dezenas de
outras indicações e prêmios dos mais variados.
Todo esse prestígio pode criar no imaginário coletivo uma ideia de
que o filme deve ser um novo Pequena Miss Sunshine ou algo no estilo Onde Vivem os Monstros, porém Indomável foge das produções cinematográficas atuais e
conquista justamente pela criatividade e sensibilidade.
"O universo depende de que tudo se encaixe perfeitamente. Eu percebo que sou uma pequena peça de um imenso universo"
Resumindo, o filme apresenta um pequeno vilarejo afastado da
cidade. Lá vive um grupo de pessoas em uma espécie de comunidade autossustentável,
na qual os membros ajudam um ao outro. Entre eles está a pequena Hushpuppy (indicada
ao Oscar de melhor atriz Quvenzhané Wallis) e seu pai Wink (Dwight Henry). O
relacionamento entre os dois é meio estranho e faz com que a menina viva em um
constante sentimento de amor e ódio, por vezes querendo que o pai morra, por
outros pedindo para morrer junto caso algo aconteça com ele. O pai parece não
querer que a garota tenha em si nada de civilizada, e a ensina modos de
como sobreviver sozinha e como ser forte. Aliás, lá é a proibido chorar.
Nos momentos de infelicidade, a garota foge para um mundo de
imaginação, no qual reencontra sua mãe, interage com a natureza e encara
animais pré-históricos. Ao aprender na escola que as geleiras dos polos estão
descongelando, e que isso fará com que seu pequeno vilarejo, chamado de
Banheira, desapareça, Hushpuppy vive com medo de ver sua casa desaparecer. Após uma densa tempestade que
alaga todo o local, ela acredita que foi a culpada pelo fim do mundo.
A tragédia desabriga toda a comunidade, e seus sobreviventes são levados a força para um abrigo. Os funcionários do local tentam inseri-los
novamente na sociedade e também dar um tratamento médico adequado ao pai da
protagonista. Porém, as investidas dos profissionais são frustradas, e boa parte
deles retorna ao vilarejo, agora um pântano sem vida.
"Animais fortes sabem quando seu coração está fraco"
Sob o ponto de vista da pequena, o filme se desenrola, meio
confuso, misturando cenas da realidade, com outras que se passam só na mente da
menina, e encanta pela linguagem ingênua e infantil usada por ela para narrar a história. A atriz Quvenzhané Wallis conduz bem o roteiro e produz cenas bastante
emotivas e fortes. Particularmente, acho que o Oscar não deveria colocar na
mesma categoria uma garota de 9 anos com veteranas do cinema, talvez no futuro
devam pensar em uma categoria infanto-juvenil, quem sabe. Mesmo assim, o
reconhecimento é válido, e espero que ela não seja atingida pela minha teoria
da maldição do Oscar, que faz com que todos os jovens atores indicados sejam
jogados no limbo após o sucesso dos filmes.
Espero
também ver mais produções do diretor e roteirista Benh Zeitlin. Este foi o
primeiro longa-metragem do cineasta de 30 anos, e se manter viva a boa visão,
criatividade e força de vontade, com certeza ainda lançará ótimos filmes no
futuro.
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