quinta-feira, 17 de junho de 2010

Tudo pode dar bem errado


Como boa fã do diretor Woody Allen, me coloco na posição de quem pode falar mal quando não gosta de algo feito por ele. E é exatamente este o caso para o filme Tudo Pode Dar Certo.
Já no começo, o personagem principal vira para a câmera e conversa com o espectador, avisando que se você está a fim de ver um filme relaxante e divertido, que deveria ir a um massagista e não ao cinema. Me empolguei de cara, pois gosto de filmes que me intrigam, e não que relaxam, mas ao final pensei que realmente eu deveria ter ido ao massagista.
O personagem principal é Boris, um senhor rabugento, neurótico e que fala demais. O que deveria ser apenas uma alusão à personalidade do diretor, virou um clone intelectualmente abusivo e que causava não o incomodo reflexivo característico de Allen, mas sim uma grande vontade de bocejar a cada frase. Não tinha como não lembrar o tempo todo do diretor através deste alterego, pelo qual ele extravasou suas ideias mais avessas nas falas de alguém que não gosta da vida e muito menos do ser humano.
Para Boris, viver é um sacrifício que por duas vezes ele tentou colocar um fim, jogando-se de uma janela, sem sucesso. Depois, esse senhor chato e arrogante se envolve com uma adolescente linda, burra e perdida, totalmente feliz e acomodada em sua ignorância, influenciada pelos pensamentos do velhote. Pausa dramática para falar sobre o quão machista esse relacionamento é. Que Woody tem sempre uma pitada de machismo, exposto através de mulheres sensuais em seus filmes, todo mundo sabe. Mas a mocinha da história ser uma gostosona acéfala, com falta de figura paterna e que se envolve com um loser pela simples necessidade de ter alguém foi demais, não é? Bad, very bad, Woody. 


 "Por que você gostaria de ouvir minha história? A gente se conhece? A gente se gosta? Deixe-me te dizer algo de cara, ok… Eu não sou do tipo simpático. Charme nunca foi uma prioridade pra mim. E para que você já saiba, este não é um filme para você relaxar. Então, se for um desses idiotas que precisam se sentir bem, vá ter os pés massageados” (Boris Yellnikoff)

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Em diversos momentos, o roteiro aponta para falas clichês, que são imediatamente combatidas pelos próprios personagens. E quando o filme chega ao fim, percebe-se que tudo foi mesmo um grande clichê, regado com preconceitos politicamente incorretos e relacionamentos que magicamente se resolvem, pelo simples fato de irem contra o senso comum. Ok que ele escreveu esse roteiro há quase trinta anos e que, talvez, se lançado naquela época, a recepção seria diferente e a mensagem mais interessante. Mas não foi o caso. Um pai de família, conservador e infiel, que no fim descobre que é gay, em plenoa século 21, não é mais novidade artística, é clichê, e dos mais entediantes.
Fugir do comum sempre foi uma das qualidades do diretor, no entanto, em Tudo Pode Dar Certo, ele peca pelos excessos, pela falta de originalidade e pela falta de charme, que sempre foi o que mais me atraiu em seus personagens. Personas estas que mesmo falantes e inconseqüentes, conseguiam ser reflexivas de um jeito atraente, agregando algo ao espectador na saída do cinema. mas dessa vez passou longe...



 “Eu odeio celebrações de Ano Novo. Todos desesperados por diversão. Tentando celebrar de alguma maneira patética. Celebrar o que? Mais um passo para a cova?” (Boris Yellnikoff)


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