segunda-feira, 7 de junho de 2010

Costelas de salto-alto

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Era uma vez uma sociedade que deu todos os poderes para os homens - e como diria o tio de Peter Parker (também conhecido como Homem Aranha): “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Logo, essa sociedade comandada pelo sexo masculino não deu conta dos grandes poderes, o que resultou em homens frustrados e mulheres dominadas, tratadas como objetos descartáveis, e não como costelas, ou seja, partes frágeis e importantes dentro do próprio corpo masculino. 
Gostaria de dizer que em um belo dia, essas mulheres resolveram mudar a história. Mas na verdade essa revolução foi feita aos poucos. Com casos isolados, dentro de uma longa história de lutas e que até hoje não terminou. Pois, além de não terem conquistado a tão sonhada igualdade, a balança ficou mais pesada ainda para o lado feminino, que alcançou parte dos direitos que todo homem têm, mas não dividiu as tarefas que toda mulher já tinha, como cuidar da casa, administrar a educação dos filhos, estar sempre bonita e desejável, e equilibrar tudo isso em cima de um salto-alto nada confortável.
E foi nesse campo de guerra confuso que surgiram quatro mulheres em um seriado de TV e jogaram na cara de todas as feministas que queimaram sutiãs que sim, adoramos os direitos conquistados, mas bem que poderíamos fazer tudo isso casadas e com a ajudinha de um homem, hein?

 “Eu sou uma mulher... eu estou naqueeela mesaaaa!” (Samantha acrescentando um verso enquanto canta “I’m a Woman” no palco de um karaokê)


Polêmicas a parte, minha leitura de Sex And The City junto com todo histórico do feminismo, não resulta que nós, mulheres, nunca estamos felizes. E nem que as quatro personagens da série, assim como seus criadores, mereçam a fogueira. Mas que tudo que começa errado, demora muito a ser concertado, e que não será de uma década para outra que uma sociedade inteira vai encontrar seu caminho de equilíbrio e felicidade entre homens e mulheres.
Ter um amor para chamar de seu, um trabalho que te realize e uma roupa que te deixe incrível, não é só o desejo de toda mulher, mas também de todo homem, só que eles não precisaram de lutas e de um seriado para gritar isso aos quatro cantos, porém, nós precisamos.
A série mostrou que o sexo frágil não é tão frágil assim, e como a maioria dos seres viventes, toda mulher sonha em ter seus direitos ao lado de um grande amor. Pois, afinal, toda costela precisa de um corpo para se encaixar (exceto se for uma costela da Thalia...).

 “Eu e você, só nós dois” (Mr. Big resumindo a vida para Carrie)

Filme de número 1
Depois de seis temporadas para explicar o quanto as mulheres são fortes e frágeis, tudo em um só ser, Sex And The City ganhou um filme, no qual Charlotte, a mocinha romântica, tenta ter um filho; a advogada Miranda tem que lidar com o trabalho, um filho pequeno e um marido infiel; a fogosa Samantha decide deixar seu namorado de longa data; e a protagonista Carrie é abandonada no altar pelo namorado confuso, que acha que assinar um papel vai mudar toda relação que eles conquistaram ao longo dos anos.
Para quem não assistiu, desculpe, mas aqui vai um spoiler: todos esses problemas são resolvidos, e elas vivem felizes até o filme de número dois.

Filme de número 2
O segundo filme, que acaba de chegar aos cinemas, traz a trupe de Carrie em uma viagem pelo Emirados Árabe, entre muitas mulheres de burca que estão longe de alcançarem a liberdade das nova iorquinas. A crítica a essa condição de vida das mulçumanas é quase inexistente comparada às cenas de comédia e aos luxuosos looks das moças.
Entre o brilho dos cristais swarovski e os devotos de Alá, a história que mais comove e que resume tudo dito acima é a da Charlotte York. Toda mulher têm um pouco da personagem que tenta se manter sempre bonita, educada, bem financeiramente, faz o que pode e não pode para manter o marido (sim, manter, pois o mercado anda concorridíssimo) e tenta criar duas filhas pequenas. E quando ela acha que conseguiu uma boa babá para ajudá-la, logo o resto do mundo enche a cabeça da coitada dizendo que ela perderá o esposo para a nova funcionária. Ou seja, um mundo cheio de cobranças e responsabilidades, que nem o Homem Aranha daria conta com todos seus poderes.

 - Deveria haver uma lei (law) contra babás gostosas (Miranda)
- Sim a Jude Law! (Carrie)


Juntar quatro estereótipos de mulheres, e deixar que as espectadoras se identifiquem ora com uma, ora com outra, foi a fórmula do sucesso dessa franquia milionária que, infelizmente, formalizou a ditadura do salto-alto, mas também fez com que cada mulher não se sentisse sozinha em sua luta, seja ela a busca por uma promoção no trabalho, pelo sonho de engravidar, ou pelo direito de parar de tratar o homem como um adversário, e sim como um aliado nessa guerra chamada vida (e prometo não falar da costela de novo).

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