Walter Mitty é o tipo de personagem que ou você entende na hora, ou vai
passar o filme inteiro o considerando um grande idiota. Para minha sorte, no
quesito arte, e azar, no quesito vida, eu entendo Walter.
Vivido pelo ator Ben Stiller, também diretor do filme, Walter trabalha
em uma revista como responsável pela seção de negativos. Sim, negativos, daqueles
que viram fotos. A coisa é tão arcaica que parece surreal o simples
fato de ainda existir. Quando o fim da publicação é anunciado, para que seja
mantida apenas a versão virtual, o emprego dele é, também, o mais óbvio de
acabar. Uma série de demissões é anunciada enquanto paira sobre os
profissionais a “honra” de fazer a última edição da história da revista.
Fora a vida profissional em perigo, o personagem é um sonhador
ambulante, daqueles que vivem mais na imaginação do que no mundo real. Apaixonado
pela colega de trabalho, ele não tem coragem de convidá-la pessoalmente para
sair. Caxias e fechado, Walter anota cada gasto, cuida com esmero da mãe viúva
e da irmã mais nova, e nunca realizou o sonho de viajar pela Europa.
Tudo precisa mudar quando o negativo do melhor fotógrafo colaborador da
revista, que pode render a foto de capa da última edição, desaparece. E Walter sai
em busca do profissional, vivido por Sean Penn, que não possui endereço fixo e está sempre trabalhando
em lugares inóspitos e/ou perigosos.
Apesar de alguns pontos forçados do roteiro, o filme é uma bela
experiência para os olhos e para as emoções. As escolhas de ângulos da câmera,
algumas brincadeiras tipográficas entre cenas, e as paisagens épicas cumprem o
papel de encher a vista de quem assiste. O entretenimento fica por conta dos
momentos cômicos, tão atrelados a Stiller que difícil é imaginá-lo sem fazer
rir, e do romance, bem representado por Kristen Wiig, no papel de Cheryl
Melhoff.
Já a moral da história, o transcender do público, ou coisa que o valha,
fica a cargo de quem assiste ao longa. Afinal, poucas coisas são mais tristes
do que entrar e sair de um cinema sem levar embora nada na bagagem. E bagagem é
algo que A Vida Secreta de Walter Mitty tem de sobra.
Mto bom Raquel
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