Quando o diretor e produtor J.J. Abrams foi escolhido para
ressuscitar a franquia Star Trek –
hit cult/geek que já foi tema de diversos filmes e séries de TV desde sua
criação nos anos 1960 – muitos fãs ficaram apreensivos sobre o que poderia ser
o resultado. Tocar em obras consideradas quase como sagradas para devotos que colecionam
bonecos dos personagens e fazem a saudação vulcana (com os dedos impecavelmente
treinados), não era das tarefas mais fáceis.
Abrams, que na época ainda bebia da glória de ser o criador
das bem-sucedidas séries Lost e Fringe, aceitou a missão e a cumpriu de
modo satisfatório. Lançado em 2009, Star
Trek (re)apresentava personagens consagrados como o capitão Kirk e o
vulcano com sobrancelhas marcantes Spock. O roteiro conseguiu introduzir o
universo para quem não conhecia a saga, e deixou a contento os tais fãs munidos
de pedras, que consentiram no final que, sim, a adaptação era boa.
Logo, aumentou-se a expectativa para a continuação, que
estava há anos luz de distância de 2009 — até o longínquo 2013. Depois da longa
espera, Além da Escuridão - Star Trek
chegou aos cinemascom o mesmo diretor
e elenco uniformizado, porém, o roteiro, infelizmente, não manteve a qualidade
do anterior.
Um caldeirão de clichês e “surpresas” óbvias montam o filme
da primeira cena até a última, sem deixar aos espectadores mais experientes
nenhuma chance de dúvida ou de uma tensão para ser vivida com intensidade. As
sequências de ação, as diversas explosões e a constante iminência da morte dos
mocinhos segue a risca cada regra dos conhecidos padrões dos filmes do filão. Chance
desperdiçada por J.J. Abrams, que poderia provar que não é só mais um “novo
Steven Spielberg”.
Porém, o que faltou de criatividade para o roteiro sobrou no
brilhantismo do elenco que conseguiu segurar as pontas de um texto ruim e
manter o filme, mesmo óbvio, interessante até o fim.
Chris Pine, como Kirk, e Zachary Quinto, como Spock, voltam
a ser o centro das atenções na sequência. A amizade e convivência amadurecida
de um longa para outro torna o relacionamento dos dois mais divertido de se
assistir. Leonard Nimoy repete a participação especial, na pele de Spock no
futuro, e até Zoë Saldana, como Uhura, ganha espaço e tem a chance de dialogar
em klingon. Mas quem rouba a cena com louvor é Benedict Cumberbatch, que vive o
vilão John Harrison.
Ambíguo, Harrison é um terrorista psicopata dotado de
“poderes”, que o tornam quase indestrutível, mas em certo ponto do filme deixa
o público — e os tripulantes da Enterprise — em dúvida, ao demonstrar outra
faceta do personagem, que tem um passado sofrido e até chega a derramar
lágrimas na cena em que conta a Kirk o porquê de suas atitudes. A dualidade do
antagonista brinca com o espectador e dá ao ator a chance de beirar o teatral,
sem cair no risível.
Ao lado dos atores na missão de salvar o dia está, claro, o
fantástico universo da saga, entregue de bandeja aos roteiristas que a
sub-aproveitaram, e também o alto investimento em efeitos especiais, que fazem
valer a pena a versão em 3D.
No fim das contas, a continuação de Star Trek não supera o
primeiro, mas mantém o ritmo graças ao elenco bem preparado, a qualidade
técnica e aos bons elementos da saga interplanetária. E, claro, o vilão
psicopata que rouba a atenção e salva o filme do buraco negro.
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