terça-feira, 25 de junho de 2013

O vilão salva o dia em ‘Além da Escuridão - Star Trek’


Quando o diretor e produtor J.J. Abrams foi escolhido para ressuscitar a franquia Star Trek – hit cult/geek que já foi tema de diversos filmes e séries de TV desde sua criação nos anos 1960 – muitos fãs ficaram apreensivos sobre o que poderia ser o resultado. Tocar em obras consideradas quase como sagradas para devotos que colecionam bonecos dos personagens e fazem a saudação vulcana (com os dedos impecavelmente treinados), não era das tarefas mais fáceis.
Abrams, que na época ainda bebia da glória de ser o criador das bem-sucedidas séries Lost e Fringe, aceitou a missão e a cumpriu de modo satisfatório. Lançado em 2009, Star Trek (re)apresentava personagens consagrados como o capitão Kirk e o vulcano com sobrancelhas marcantes Spock. O roteiro conseguiu introduzir o universo para quem não conhecia a saga, e deixou a contento os tais fãs munidos de pedras, que consentiram no final que, sim, a adaptação era boa.
Logo, aumentou-se a expectativa para a continuação, que estava há anos luz de distância de 2009 — até o longínquo 2013. Depois da longa espera, Além da Escuridão - Star Trek chegou aos cinemascom o mesmo diretor e elenco uniformizado, porém, o roteiro, infelizmente, não manteve a qualidade do anterior.


Um caldeirão de clichês e “surpresas” óbvias montam o filme da primeira cena até a última, sem deixar aos espectadores mais experientes nenhuma chance de dúvida ou de uma tensão para ser vivida com intensidade. As sequências de ação, as diversas explosões e a constante iminência da morte dos mocinhos segue a risca cada regra dos conhecidos padrões dos filmes do filão. Chance desperdiçada por J.J. Abrams, que poderia provar que não é só mais um “novo Steven Spielberg”.
Porém, o que faltou de criatividade para o roteiro sobrou no brilhantismo do elenco que conseguiu segurar as pontas de um texto ruim e manter o filme, mesmo óbvio, interessante até o fim.


Chris Pine, como Kirk, e Zachary Quinto, como Spock, voltam a ser o centro das atenções na sequência. A amizade e convivência amadurecida de um longa para outro torna o relacionamento dos dois mais divertido de se assistir. Leonard Nimoy repete a participação especial, na pele de Spock no futuro, e até Zoë Saldana, como Uhura, ganha espaço e tem a chance de dialogar em klingon. Mas quem rouba a cena com louvor é Benedict Cumberbatch, que vive o vilão John Harrison.
Ambíguo, Harrison é um terrorista psicopata dotado de “poderes”, que o tornam quase indestrutível, mas em certo ponto do filme deixa o público — e os tripulantes da Enterprise — em dúvida, ao demonstrar outra faceta do personagem, que tem um passado sofrido e até chega a derramar lágrimas na cena em que conta a Kirk o porquê de suas atitudes. A dualidade do antagonista brinca com o espectador e dá ao ator a chance de beirar o teatral, sem cair no risível.


Ao lado dos atores na missão de salvar o dia está, claro, o fantástico universo da saga, entregue de bandeja aos roteiristas que a sub-aproveitaram, e também o alto investimento em efeitos especiais, que fazem valer a pena a versão em 3D.
No fim das contas, a continuação de Star Trek não supera o primeiro, mas mantém o ritmo graças ao elenco bem preparado, a qualidade técnica e aos bons elementos da saga interplanetária. E, claro, o vilão psicopata que rouba a atenção e salva o filme do buraco negro.


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