Quando ganhei o livro infantil Onde Vivem os Monstros e o li em um minuto, pensei: como alguém pegou essas 15 linhas de história e transformou em um filme?
Ao saber que a direção era assinada por Spike Jonze, logo acreditei na possibilidade de multiplicação das 15 linhas em um texto que, provavelmente, seria mais assimilado por adultos do que por crianças. E assim foi.
O longa conta a história de Max, um menino com a grande imaginação característica da infância. O início mostra a tentativa desesperada de Max para obter da mãe e da irmã a mesma admiração e atenção que ele tem por elas. Em um momento de rebeldia, ele e a mãe brigam, e o garoto foge para um mundo secreto, longe de todos que o aborrecem.
Lá ele encontra monstros enormes e feios (bem feios...). Esqueça a sensação de sair do cinema com vontade de abraçar os monstrengos da telona, como acontece em Monstros S /A ou King Kong (sim, eu tive vontade de abraçá-lo!). Os seres deste filme são grandes, estranhos e, muitas vezes, assustadores. Max chega nesse lugar e quase é devorado, até que ele se auto-proclama rei dos monstros, que o aceitam com a promessa de que, como rei, fará a tristeza ir embora. Pausa dramática para os olhos sem vida daquele grupo, que passam uma tristeza imensurável enquanto esperam a resposta do pequeno rei, que logo promete um grande escudo antitristeza para protegê-los.
“Tudo isso é seu. Você é o dono deste mundo”(Carol)
Daí em diante o filme se desenrola na imaginação desta criança. Todas as falas são facilmente relacionáveis dentro do repertório infantil. Ora dentro do vocabulário que ele já tem, ora reproduzindo conversas adultas que são ouvidas e pouco assimiladas. Como, por exemplo, quando o casal de monstros principais (Carol e KW) discutem a relação, e deixam claro que são linhas de uma briga presenciada pelo protagonista na vida real entre os pais divorciados.
Esse tipo de filme sempre chama minha atenção, pois sou uma grande admiradora da mente das crianças! Adoro a facilidade criativa que elas possuem, usada principalmente para fugir deste mundo que é muito grande e complicado para as possibilidades que elas possuem. E não gosto de usar a palavra “fuga” – por mais que seja isso que nós adultos entendamos -, mas gosto de pensar que elas são seres simples, que ainda não entraram na caverna proposta por Platão. Elas ainda estão em um mundo perfeito, iluminado, sem maldades, sem limites para sonhar. E, aos poucos, as atitudes adultas que expressam sentimentos como ódio, raiva, medo; e as preocupações cotidianas como a ordem, as finanças, os chefes; se tornam piores do que o medo de ser engolido por um monstro gigante que pode morar embaixo da cama, ou do outro lado da rua.
E então o monstro se torna pequeno, uma memória distante, e a criança tem que crescer para aprender que ilhas da imaginação não existem. E que sentir solidão e tristeza é tão comum que até existe médico e remédio para isso.
“Felicidade nem sempre é a melhor maneira de ser feliz” (Judith)
Se você vai gostar de Onde Vivem os Monstros, não sei, o filme tem um ritmo lento, uma fotografia linda, porém triste e ocre, e, como dito, monstros feios e assustadores. Mas uma pontinha de saudade do colo seguro da mamãe e a vontade de sonhar com mais freqüência são sentimentos garantidos.
“Eu não quero que você se vá, eu te amo tanto que vou te comer” (KW)
Tô ansiosa por assitir agora, Flor! Ótimo texto!
ResponderExcluirVocê tem razão: às vezes se imaginar engolida por um monstro parece muito mais fácil mesmo.
Ah, e eu também tive vontade de abraçar o King Kong! rsrs
Beijocas! Saudade!
Deixa eu entender, vc acha os montros do filme feios e teve vontade de abraçar o king kong?? Você tem um gosto torto, não é possível. Sério, não vejo diferença entre eles e o Sully, do "monsters inc.". Todos são fofos.
ResponderExcluirTirando isso, ótima crítica.
Concordo com o Beto! Não vejo diferença entre esses montros e os de Monstros S.A., são todos fofos!!! Particularmente, o filme não alcançou minhas expectativas, mas recomendo mesmo assim.
ResponderExcluirBjinhos