quarta-feira, 14 de março de 2012

Sobre cinema e propósitos



Depois de muito ouvir falar que A Invenção de Hugo Cabret era lindo e que valia cada centavo do caríssimo cinema 3D, investi bons R$ 25 em uma sessão do novo filme de Martin Scorsese, vencedor de cinco prêmios no Oscar (Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Visuais). E como havia escutado por ai, valeu a pena. O filme é lindo, da abertura aos créditos finais. O elenco está impecável, aliás, aposto no talento de Chloë Moretz há muito tempo, desde 500 Dias Com Ela e depois em Kick-Ass, não tinha como deixar a bonitinha passar despercebida. Asa Butterfield também está excelente no papel principal do órfão Hugo, um garoto que vive em uma estação de trem e tem o sonho de fazer a única lembrança deixada por seu pai, uma espécie de robô, funcionar novamente. No desenrolar da história, ele conhece George Méliès (Ben Kingsley) e Isabelle (Chloë), com George desenvolve um relacionamento conturbado de amor ódio e, com Isabelle, uma amizade-quase-amor. A partir daí descobrimentos ligam a antiga máquina de Hugo ao mal-humorado George, e a fantástica invenção do cinema.




Em contrapartida ao exuberante e cheio de efeitos A Invenção de Hugo Cabret, assisti no dia seguinte ao ganhador do Oscar de melhor filme O Artista. Mudo e em preto e branco, o estilo foi adotado para contar a história de um ator que era um astro na época do cinema mudo, até a invenção do cinema falado. Com sérias dificuldades de adaptação, o personagem principal, George Valentin, se afunda em dívidas, desilusões e decepções, também conhecido como o famoso fundo do poço. E nessa voltinha pelo desespero, George aprende sobre como deixar o orgulho de lado e a confiar em outras pessoas que não ele mesmo. Falando assim parece tudo meio óbvio e fácil para uma história curta, de 1h30. No entanto, tão acostumada com belos filmes em 3D saltando aos nossos olhos, assistir novamente a um filme mudo e PB foi um exercício que exigiu certo esforço da minha parte. Particularmente, creio que o Oscar valeu pela ousadia do diretor em usar, em pleno século 21, uma metalinguagem estética com tanta propriedade. As interferências (como no momento que George sonha com barulhos, mas não consegue falar), a excelente linguagem corporal dos atores, e as poucas linhas de fala escrita , deixaram o filme ainda mais interessante e muito bem amarrado.


No fim, tanto O Artista e sua cara mais do que retrô, e A Invenção de Hugo Cabret com sua tecnologia milionária, são dois lindos filmes e que compartilham muitas coisas além de se passarem na mesma época e falarem sobre a invenção e desenvolvimento do cinema. A essência dos dois roteiros também se encontram nos mesmos pontos: descobrir qual o seu propósito, manter-se de pé por ele e permitir-se sonhar expressando a arte e o talento que possui. E a plataforma para tais eventos é justamente a sétima arte, entendida como uma fábrica de sonhos. Um lugar onde tudo pode acontecer, no qual quem participa pode expressar sua criatividade, suas ideias, seus movimentos, suas fantasias. Quando esta possibilidade é interrompida, ou por uma gigantesca crise financeira, ou por mudanças de estilo, os personagens se enxergam em algum ponto como “quebrados” por não estarem cumprindo seu propósito de levar outras pessoas a sonhar e, consequentemente, também não sonham mais.
Aliás, em Hugo Cabret, tem uma linda cena das duas crianças conversando sobre isso. Parte do texto está no fim deste post.
No resumo da obra, os dois filmes são ótimos e merecem tanto o destaque que ganharam na premiação quanto o seu ingresso no cinema. Assista sem medo!



“Eu imagino que o mundo seja uma grande máquina. Máquinas nunca vêm com uma peça a mais. Elas sempre vêm com a quantidade de peças exata que ela precisa para funcionar. Então eu imagino, se o mundo inteiro for uma grande máquina, eu não posso ser uma peça extra. Eu estou aqui para um propósito.”

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