terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

George me fez chorar



Tardiamente comecei minha maratona do Oscar. Este ano decidi fazer depois da premiação, já que sempre faço apostas brilhantes e totalmente erradas. Então não farei comparações de quem deveria ou não ganhar, até porque não faz diferença nenhuma na minha vida. O que faz sim diferença é o quanto um bom filme pode nos fazer refletir, relembrar e, depois, até te fazer sonhar durante a noite enquanto “digere” tudo o que viu. E foi o que aconteceu ontem ao assistir Os Descendentes.
O filme começa com Elizabeth, esposa de Matt King (George Clooney). Logo nos primeiros minutos ela sofre um acidente e entra em coma, que pouco depois já é noticiado como irreversível. Se não bastasse lidar com a morte da esposa, Matt tem que cuidar de um negócio bilionário em família, das filhas rebeldes e também da notícia que sua esposa o traía e planejava deixá-lo. Bomba atrás de bomba. E tudo isso acontece antes da metade do longa.


No entanto, mesmo cheio de notícias iniciais, o restante do filme dança mais em cima dos relacionamentos, de diálogos reflexivos e da aproximação familiar. Daí em diante apenas detalhes vão entrando na história, enquanto Matt e suas filhas se encarregam de dar a notícia ao restante dos familiares e amigos de que em breve os aparelhos serão desligados e Elizabeth morrerá.
Inicialmente parece uma tragédia sem fim, mas Os Descendentes tem diversos momentos de alegria, e os de tristeza não afundam no dramalhão exagerado. Pelo contrário, a emoção é baseada na sensibilidade de um pai idoso se despedindo de sua filha, de uma psicóloga contando para a garotinha de 10 anos que sua mãe não vai mais acordar , e, na melhor cena do filme, do marido em seu último momento com a esposa.
Falando nele, George Clooney estava excelente. A maior parte do tempo ele atua com dois adolescentes (os também ótimos Shailene Woodley e Nick Krause) e uma criança. Tem diversos monólogos com a esposa em coma, e também narra toda a história.


"O que faz com que as mulheres da minha vida destruam a si mesmas?" (Matt)

Relacionamentos familiares são sempre bons temas para filmes universais. Mas, exatamente por isso, também correm o risco de ser feito com tantos clichês e abusos que estragam o que poderia ser uma boa história. O que não é o caso de Os Descendentes, que envolve diversos níveis familiares que poderia sim ter caído na mesmice, mas não o fez. Aqui Matt deve lidar com primos e parentes distantes por causa de um grande terreno virgem que sua família herdou de antepassados no Havaí, e que vale muitos milhões de dólares. Ao mesmo tempo o protagonista tenta lidar com a traição da esposa em coma, com a qual não pode discutir e perguntar tudo que está engasgado, sendo assim, ele parte em busca do amante, esperando que ele tenha essas respostas. E, por fim, Matt tem que reconquistar suas filhas. Duas garotas rebeldes e que conviveram sempre com a mãe e não com o pai ausente. A superficialidade de alguns destes relacionamentos, em contraponto com a tentativa de se aprofundar em outros tardiamente, é o que conduz o personagem nas quase duas horas de filme. Tão intenso quanto o drama de Matt está a força de Elizabeth. Mesmo em coma, sem falar uma palavra o filme todo, é impossível não se conectar a personagem em algum nível. Seja no pensamento de perder a mãe, uma amiga, a esposa ou uma filha, as lágrimas provocadas em quem está assistindo sempre vão passar por um destes cargos familiares. Acusada de erros ou admirada por outros acertos, ela dá o tempero da história e deixa todos refletindo sobre os porquês de suas atitudes.

"Adeus, Elizabeth. Adeus, meu amor, minha amiga, minha dor, minha alegria. Adeus, adeus, adeus."

Sem mais delongas, Os Descendentes é um lindo filme, comovente e emocionante. Digno de lágrimas e também de alguns sorrisos. Elenco impecável e mensagem dada com muita eficiência. Obrigada mais uma vez, George.



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